Pinguim é encontrado morto após o feriado 7 de setembro e necropsia do Instituto Argonauta revela máscara embrulhada no estômago do animal

Animal foi encontrado morto dois dias depois do feriado prolongado. Morte está atrelada a uma máscara facial localizada no estômago do pinguim

As consequências do grande número de pessoas que frequentaram as praias do Litoral Norte paulista (Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela) no feriado prolongado de 7 de setembro não param e, desta vez, podem ter custado a vida de um Pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus), cuja causa da morte está atrelada a uma máscara que foi encontrada dentro do seu estômago.

Necropsia realizada pela equipe do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) do Instituto Argonauta localizou uma máscara embrulhada dentro de um Pinguim-de-Magalhães (Créditos: Divulgação/Instituto Argonauta)

O caso aconteceu dois dias depois do feriado em meio a Pandemia, no dia 9 de setembro. A equipe do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) do Instituto Argonauta para Conservação Costeira e Marinha foi acionada para recolher o animal morto na Praia de Juquehy, em São Sebastião/SP. De acordo com informações da equipe técnica, ele estava muito magro e com muita areia em todo o corpo.

 

Todos os animais mortos que são recolhidos pela instituição são encaminhados para necropsia com a finalidade de identificar a causa da morte, e o lixo em geral é frequente nos exames. Sendo assim, o pinguim foi levado para a Unidade de Estabilização (UE) do Argonauta que executa o PMP-BS Área São Paulo para necropsia, mas, para surpresa de todos, o exame localizou lixo oriundo da pandemia enrolada em seu estômagouma máscara facial N95.

Máscara embrulhada no estômago do Pinguim (Créditos: Divulgação/Instituto Argonauta)

Presidente do Instituto Argonauta, o oceanógrafo Hugo Gallo Neto atenta para os problemas que estão sendo ocasionados pelo descarte inadequado de resíduos, em especial a esse tipo de lixo da Pandemia. “Nós já vínhamos alertando o aparecimento de máscara, e esse caso é a prova inequívoca de que esse tipo de resíduo causa mal e mortalidade também na fauna marinha, além da irresponsabilidade da pessoa que dispensa uma máscara em um lugar inadequado, pois é um lixo hospitalar com risco de contaminação de outras pessoas. Nós sentimos que a falta de educação da população que frequenta o litoral norte em relação a questão de resíduos precisa ser trabalhada de forma eficiente em todos os níveis, desde criança nas escolas, ainda com a criação de legislação mais rígida para evitar que as pessoas joguem lixo em qualquer lugar. Também são necessárias políticas de fiscalização na legislação que coíba com multa, e ainda trabalhar a colocação de lixeiras. O impacto não é somente na fauna, mas também na saúde e na questão econômica, porque tem que limpar a sujeira que as pessoas deixam. Se deixar a Praia Grande com o lixo que as pessoas estão deixando, por exemplo, no dia seguinte ninguém vai querer ir lá. Está se tornando um problema crônico e de grande impacto”, avaliou o oceanógrafo.

 Recentemente, o Instituto Argonauta divulgou uma avaliação prévia da quantidade de lixo que foi encontrada nas praias do LN, cujos dados irão constar na 23ª edição do Boletim do Lixo. Os dados sobre os resíduos nas praias durante o mês de setembro devem ser publicados na íntegra no próximo mês, no entanto, a bióloga MSc. bióloga Natalia Della Fina, responsável pelo Boletim do Lixo, observou que houve maior incidência nos resíduos no feriado prolongado, principalmente pelo aumento de número de pessoas nas praias durante o período. A Praia Grande de Ubatuba, por exemplo, amanheceu no dia 7 de setembro com acúmulo de lixo em vários pontos da areia, evidenciado em registro fotográfico realizado pela equipe durante suas atividades de monitoramento.

Como já mencionado pela instituição em outras oportunidades, um novo tipo de resíduo vem sendo encontrado com frequência não somente nas praias paulistas, mas como  também em toda a costa brasileira: as máscaras utilizadas para proteção facial em meio a pandemia da COVID-19. A equipe técnica do Instituto Argonauta tem registrado o descarte inadequado desses aparatos de segurança através do Boletim do Lixo, que apontou que desde o dia 16 de abril até o dia 13 de setembro deste ano, foram encontradas um total de 113 máscaras descartadas de forma incorreta nas praias do LN de São Paulo. No gráfico abaixo elaborado pela equipe do Argonauta, é possível notar que o pico de máscaras encontradas nas praias paulistas ocorreu durante o feriado prolongado, especificamente no dia 8 de setembro, onde foram encontradas 10 máscaras:

Pico de máscaras ocorreu no feriado prolongado, no dia 8 de setembro (Gráfico elaborado pela equipe técnica do Instituto Argonauta)

Pinguim-de-Magalhães

A temporada dos Pinguim-de-Magalhães começou no mês de junho deste ano no LN e em toda costa brasileira. O primeiro pinguim resgatado pela equipe do PMP-BS Área SP do Instituto Argonauta foi no dia 9 de junho, na praia do Itaguaçu, em Ilhabela. Desde então, foram 576 ocorrências atendidas pelo Argonauta até o dia 31 de agosto envolvendo os pinguins desta espécie, sendo que, do total, apenas um pinguim realmente sobreviveu e foi encaminhado para soltura junto a outros pinguins da temporada reabilitados pelas instituições parceiras.

Todos os anos, os Pinguim-de-Magalhães migram da Patagônia Argentina em busca de alimento, mas parte deles acaba se perdendo do grupo e são encontrados em nossas praias.

De acordo com a bióloga Carla Beatriz Barbosa, Coordenadora do Trecho 10 do PMP-BS Mineral/Argonauta, o Pinguim-de-Magalhães é uma espécie encontrada na Patagônia Argentina e Chilena e nas Ilhas Malvinas.  São aves marinhas com o corpo adaptado para viverem na água, mas não voam, e têm suas asas modificadas em nadadeiras.

A bióloga explica que os pinguins permanecem na água durante a época não reprodutiva, entre os meses de Abril e Setembro. “Nesta época, eles saem em busca de alimento se aventurando por distâncias mais longas, podendo chegar até o nosso litoral sudeste. Alimentam-se de peixes, cefalópodes (polvos e lulas) e pequenos crustáceos”, detalha a bióloga.

“É neste período que esses animais são encontrados, muitas vezes fracos, debilitados e necessitando de cuidados. Aqui na região, estes animais são encaminhados para o Centro de Reabilitação e Despetrolização de Ubatuba ou para a UE de São Sebastião, para que depois de reabilitados sejam devolvidos à natureza”, finalizou Carla.

Redação

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