Uma baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae) ficou presa em um petrecho utilizado em pesca de espinhel, e foi desemalhada em Ilhabela, litoral norte de São Paulo, na tarde desta terça-feira (27) pela equipe do Instituto Argonauta.
A ação contou com o apoio da embarcação Pontoporia da Terramare, e o acionamento foi feito pelas equipes da embarcação Megafauna e do VIVA Instituto Verde Azul, que avistou a baleia pela manhã e solicitou apoio da Megafauna que estava na região observando baleias, a bordo com equipes dos Projetos Baleia à Vista, e Mantas de Ilhabela, além de fotógrafos.
Segundo informações da equipe de desamalhe do Instituto Argonauta, a baleia que estava emalhada tinha um tamanho aproximado de oito a nove metros. Ela estava arrastando um cabo de nylon com poita (peso para manter o petrecho no fundo), que estava preso a sua cauda, medindo cerca de 80 metros, e espessura de 8 a 10mm. Esse é um tipo de petrecho utilizado em pesca de espinhel – formado pela linha principal, linhas secundárias (alças) e anzóis.
A equipe especializada do Instituto Argonauta, com os biólogos Marcelo Rezende e Vinicius Damasceno, seguindo todo o protocolo exigido para a operação, conseguiu efetuar com sucesso o corte do cabo e a liberação do animal. Durante a ação, outra baleia jubarte menor, que media de 6 a 7 metros, acompanhava a baleia emalhada. A equipe observou que o cabo preso à jubarte estava muito pesado, e que ficou surpresa como o cetáceo estava conseguindo nadar com o petrecho enroscado.
O desemalhe de uma baleia é uma atividade extremamente arriscada que precisa ser feita, seguindo protocolos específicos, e regulamentados no Brasil pelo CMA-ICMBIO e por uma equipe técnica capacitada e treinada para evitar ao máximo o risco a vida da equipe de salvamento. A capacitação e o uso de equipamentos corretos e adequados para este tipo de atividade é muito importante para o sucesso da operação.
“Quando as pessoas tentam, nas melhores das intenções, fazer o desemalhe para ajudar o animal, acabam se colocando em risco e comprometendo, na maioria das vezes, a operação. As equipes utilizam equipamentos específicos para minimizar o risco da baleia causar ferimentos às pessoas que estão tentando ajudar. Importante também lembrar que, não se deve, em hipótese alguma, entrar na água para tentar desemalhar o animal”, enfatiza o biólogo do Instituto Argonauta Manuel da Cruz Albaladejo.
Diretora Executiva do Instituto Argonauta, a bióloga Carla Beatriz Barbosa explica o motivo desses animais aparecerem na região. “As baleias-jubartes migram da Antártica para a costa sul da Bahia durante o inverno, para reprodução e amamentação. Durante seu deslocamento são avistadas na região do Litoral Norte – um dos caminhos da sua longa trajetória”, comenta.
A baleia-jubarte recentemente foi enquadrada no status segura/pouco preocupante ou,em inglês, Least Concern (LC), de acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas (em inglês IUCN Red List ou Red Data List). Isso porque, depois que sua caça foi proibida, a população das Jubartes no Oceano Atlântico sul ocidental está em plena recuperação.
No entanto, a espécie sofre com outras ameaças, como a pesca incidental. “É quando esses animais acabam se enroscando em algum petrecho de pesca que não era destinado a elas. Não é o objetivo dos pescadores que a baleia se emalhe, pois acabam perdendo seus petrechos, mas é um dos grandes desafios de gestão das áreas marinhas. Elas ainda podem ser atropeladas por lanchas, barcos ou navios, e tem também as pessoas que não respeitam as normas de avistamento, e que podem causar o molestamento desses animais”, alerta Carla.
O Instituto Argonauta que atua em todo litoral norte do Estado de São Paulo, tem em seu histórico conjuntamente com Aquário de Ubatuba e Projeto Tamar, o resgate de uma baleia jubarte no ano de 2000 que encalhou na Praia do Bonete em Ubatuba, e que foi reavistada em Abrolhos com comportamento normal de reprodução oito anos depois.
Segundo o oceanógrafo e presidente do Instituto Argonauta Hugo Gallo Neto, “Um dos momentos mais importantes e mais realizadores de todo trabalho de resgate e reabilitação de fauna que já executamos ao longo destes 25 anos em toda a região é justamente quando conseguimos liberar um animal tão especial quanto uma baleia, e descobrir que ele vai poder continuar a sua trajetória de vida por mais tempo na natureza. Nestes momentos, eu chego a pensar que, pelo menos um pouco, nós estamos tentando e conseguindo reverter o grande impacto que a atividade humana causa na fauna marinha”.
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