Cerimônia ‘Barcos ao Mar’ marca fim do Defeso do Camarão e homenageia o pescador Luiz Antônio de Assis
A 23ª edição da tradicional cerimônia ‘Barcos ao Mar’, que marca o fim do Defeso do Camarão, será realizada neste domingo (29), a partir das 10h, no Entreposto de Pesca do Camaroeiro, no Centro de Caraguatatuba.
Neste evento, a comunidade pesqueira de Caraguatatuba se reúne para pedir a proteção de São Pedro Pescador e de Nossa Senhora dos Navegantes para a abertura da pesca do crustáceo.
A cerimônia é realizada pela Prefeitura Municipal, por meio da Fundacc – Fundação Educacional e Cultural de Caraguatatuba, e é considerada o pontapé inicial para o Festival do Camarão, que será realizado de 15 a 24 de julho na Praça da Cultura, no Centro da cidade.
Procissão
Os pescadores participam da procissão terrestre, onde os fiéis carregam o andor com as imagens de São Pedro Pescador e de Nossa Senhora dos Navegantes, após serem abençoados pelo padre Cláudio Rodrigues da Silva, pároco da Igreja Santa Terezinha.
Acompanhados pela Banda Municipal Carlos Gomes durante o cortejo a pé, eles seguem para os barcos enfeitados, saindo da praia do Camaroeiro em procissão marítima, passando pela Prainha e Martin de Sá.
Homenagem
Durante a cerimônia ‘Barcos ao Mar’ também será homenageado o pescador Luiz Antônio de Assis.
Luiz Antônio de Assis, 55, nasceu em 15 de janeiro de 1967, na cidade de São José dos Campos. Filho de João de Assis e Maria Ione de Siqueira, mudou-se para Caraguatatuba quando ainda era bebê.
Luiz Antônio tem um irmão: Ivens Roberto de Assis e uma irmã adotiva: Maria Lucia Fernandes de Miranda, também moradores de Caraguatatuba.
Criado no bairro do Ipiranga, próximo à praia do Camaroeiro, Luiz Antônio considera-se um caiçara nato, tendo vivido toda sua vida em Caraguatatuba, próximo ao mar. Ele conta que seu avô trabalhava como contador na cidade de São José dos Campos e que possuía uma casa de veraneio na cidade e que após seu pai, João, formar-se também em contabilidade, a família decidiu vir morar no Litoral Norte, onde, mais tarde, seu pai montou um escritório localizado na Avenida Anchieta, no Centro de Caraguá.
O jovem Luiz Antônio teve diversos empregos, inclusive, em uma fábrica de blocos. Ele conta que seu pai queria que ele desse continuidade ao ofício de contador, como seu avô e ele fizeram. Mas para ele, passar o dia mexendo com papéis dentro de um escritório não era nada atrativo. “Aquilo ali não era viver, era ficar preso em um lugar que não era minha praia”, recordou.
E o amor pelo mar veio acompanhado do amor de sua vida, Edna do Espírito Santo de Assis, caiçara e filha de pescador. Luiz Antônio e Edna estão juntos, entre casamento e namoro, há 39 anos, sendo 36 anos de casados e três de namoro. Juntos, tiveram dois filhos, Diogo Roberto e Luan Ricardo de Assis.
Luiz Antônio conta que ele e Edna sempre moraram no mesmo bairro, tiveram vários amigos em comum e também estudaram a quinta série juntos na Escola Estadual Alcides de Castro Galvão, no bairro Ipiranga. Tantas coincidências, mas somente foram realmente se conhecer anos depois através de amigos.
Ele conta que desde sempre os amigos saiam para pescar de linhada, mas ele não gostava e não ia junto. Porém, o interesse pelo ofício surgiu após conhecer Edna e sua família, que viviam da pesca.
No início, ele conta que não foi fácil. Disse que sofria muito, passava muito mal no barco e pensava seriamente em procurar outro emprego, mas aprendeu a trabalhar graças a um senhor, seu Sebastião Mendes de Souza, mais conhecido como Tião do Neno, que com muita paciência e boa vontade ensinou-lhe o ofício da pesca.
Seu Tião do Neno foi seu “alicerce” durante o início, pois era quem o motivava a seguir com o trabalho, ter paciência e não desistir. Lhe ensinou desde o básico, como ficar em pé em uma canoa, remar, conhecer o tipo de pescaria, até mesmo ver o tempo. Seu Tião do Neno foi o responsável por engrená-lo na pesca e por fazê-lo continuar, somando, hoje, 40 anos de profissão.
“Foi tudo por causa desse senhor, ele me ensinou o jeito de trabalhar, de ser uma pessoa calma em relação a enjoos, porque eu falava que não queria mais. Isso levou cerca de dois anos até meu corpo chegar a se adaptar em relação ao mar”, relembrou Luiz Antônio.
Ao todo, trabalhou em cerca de 15 embarcações, de peixe e camarão. Dessas, duas foram suas: ‘Santa Maria’ e ‘Badejo’. Luiz Antônio conta que ambos os filhos já o acompanharam no trabalho, e que hoje, Luan, seu filho mais novo, tem seu próprio barco.
Em 24 de junho de 2021, sofreu um acidente enquanto trabalhava com a pesca de arrasto, método de pesca que envolve puxar a rede de pesca atrás de um ou mais barcos. Durante o arrasto, que ele conta ser uma prática que exige muito esforço físico, acabou enroscando a mão na corda do tambor do guincho que o ajudava com a tarefa.
Com dificuldade para conseguir levantar, Luiz Antônio agarrou-se no aparelho que ligava e desligava a máquina, e foi quando conseguiu apoio para se levantar e soltar a mão que estava presa, porém, com o corpo sendo arrastado para as engrenagens do guincho, por um reflexo, na tentativa de proteger a cabeça, levou o braço à frente. Para ele, sua mão havia alcançado o tambor do guincho, percebendo só depois que, de fato, tratava-se das engrenagens.
Foram semanas de muita provação para ele e sua família. O ferimento exigia que diariamente ele fosse ao hospital para trocar os curativos. A primeira cirurgia foi feita, e somente quatro meses depois veio a segunda, que corrigiu o posicionamento de seu osso e permitiu que, mesmo sem a mão, pudesse recuperar os movimentos do pulso, após o religamento do tendão.
Com fé e gratidão pela vida, Luiz Antônio continua em recuperação com a ajuda de seus familiares. Pai e esposo dedicado, segue sua vida com muita garra e determinação, esperançoso de que as novas gerações de caiçaras sejam mais conscientes e protejam o pedacinho do paraíso que temos chamado Caraguatatuba.
Serviço
Cerimônia ‘Barcos ao Mar’
Data: 29 de maio (sábado)
Horário: 10h
Local: Avenida Dr. Arthur Costa Filho, Centro (final da praia do Camaroeiro)