Aldeias indígenas do estado recebem mais de 18 mil mudas da Agricultura SP
A entrega foi feita em oito lotes, em torno de 2.500 mudas, totalizando, de março de 2020 a janeiro de 2021, 18.500 mudas
A Secretaria de Agricultura e Abastecimento, via Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) – Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes (DSMM) entregou, no mês de janeiro a última remessa de mudas de frutíferas e florestais nativas solicitadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai). A entrega foi feita em oito lotes, em torno de 2.500 mudas, totalizando, de março de 2020 a janeiro de 2021, 18.500 mudas. As transações foram intermediadas por Gilberto Bueno, chefe do Serviço de Gestão Ambiental e Territorial da Coordenação Regional Litoral Sudeste e por sua equipe, com vistas à recomposição florestal e recuperação de áreas degradadas em Terras Indígenas, como Jaraguá, localizada em São Paulo, capital; Serra do Itatins (SP) e Pakurity, em Cananéia (SP).
“Para entregar essas mudas de frutíferas diversas e florestais foi necessário envolver os Núcleos de Produção de Mudas (NPM) de Pederneiras, Marília e Itaberá”, conta o engenheiro agrônomo José Roberto Bois, diretor do NPM de Pederneiras, que coordenou toda a ação durante o ano que passou. Bois conta que tais espécies já são de produção normal dos Núcleos e que se encontram sempre à disposição para aquisição, tanto em quantidades maiores como estas, assim como menores. “Porém, em relação às frutíferas comerciais, normalmente a produção ocorre em cima da demanda dos produtores, sendo necessário um tempo maior entre a encomenda e a entrega”, explica o diretor do Centro de Produção de Mudas, engenheiro agrônomo Edegar Petisco.
“Além da recuperação de áreas específicas, com projetos de reflorestamento em Sistemas Agroflorestais, a aquisição de mudas de florestais nativas, e, principalmente, frutíferas, tem como objetivo o enriquecimento das diversidades locais de espécies e recuperação da população de plantas raras ou em risco de extinção, como é o caso do Jatobá”, afirma Marco Antonio Cordeiro Mitidieri, indigenista da Funai e biólogo especialista em projetos sustentáveis.
Além disso, Michel Idris da Silva, auxiliar em indigenismo da Funai e técnico em agroecologia explica que “ainda foi pensado no preenchimento do calendário da produção agrícola das comunidades, com a possibilidade de geração de alimentos e produtos para a comercialização em épocas diferentes das demais culturas comumente cultivadas pelas comunidades. Outra vantagem que levou à decisão pela aquisição é que as mudas produzidas pela Secretaria de Agricultura “apresentaram valores abaixo do mercado, além de haver grande diversidade de espécies e a reconhecida qualidade das mudas”, disse Silva.
A interação interespécies também é um fator importante para as Terras Indígenas, pois essas plantas fornecerão alimentação para fauna, como é o caso de abelhas nativas, que por sua vez podem gerar mais benefícios com produtos para os indígenas e mais qualidade de vida para a comunidade, inclusive incentivando a reprodução cultural dos conhecimentos tradicionais e consequente fortalecimento da educação escolar. Com esta ação do plantio de mudas vem ocorrendo a recuperação de nascentes, com um efeito positivo a mais. “A forma de manejo tradicional dos povos indígenas em seu território é extremamente sustentável, como é de fato o manejo do povo Guarani no Estado de São Paulo, responsável pela conservação ambiental de significativas parcelas da mata atlântica. Os projetos da Funai com as comunidades indígenas promovem benefícios não apenas para as comunidades envolvidas, mas para toda a sociedade, por meio de trabalhos que fortalecem a produção de serviços ambientais e de alimentos, e a valorização e proteção das espécies nativas, da flora e da fauna, apoiando o equilíbrio e recuperação da Mata atlântica, gerando benefícios à toda a população”, explicou Mitidieri.
Aos sistemas agroflorestais, foi, ainda, incorporado o feijão guandú, também adquirido da Secretaria de Agricultura, como forma de enriquecimento de nitrogênio e cobertura do solo. A espécie ainda é uma alternativa alimentar, tanto para pessoas, como para animais de criação.
As mudas serão utilizadas na execução de diversos projetos tais como recuperação de nascentes e áreas degradadas, módulos agroflorestais, enriquecimento de sub-bosque, integração agroflorestal com culturas já implantadas como banana e palmito pupunha.
O impacto da introdução das mudas nas aldeias*
Na aldeia Rio Branco em Itanhaém, por exemplo, foram criados corredores agroflorestais unindo a mata ciliar do Rio Branco com a mata da montanha do outro lado do vale, criando, deste modo, um corredor verde que garante o acesso à água e a plantas frutíferas de interesse da fauna. Os bananais da aldeia também foram enriquecidos com o plantio de mudas de urucum e frutíferas nativas nas entrelinhas; nas áreas sombreadas pelas bananeiras foram plantadas juçara e erva mate. Já as frutíferas silvestres são importantes fontes de nutrientes para as crianças da aldeia e fazem parte de sua alimentação tradicional. O urucum e o feijão guandu, além de serem utilizados na alimentação, são destinados, também, à formulação de ração verde para a criação de galinhas caipiras; a semente de urucum enriquece a produção de ovos deixando as gemas mais vermelhas e com maior teor de carotenoides; o feijão guandu, após a poda, tem suas ramas e sementes trituradas e secas e é misturado à ração, substituindo a soja e o milho na proporção de vinte por cento. Esse sistema de integração com galinheiros também é utilizado pela Funai na aldeia Karugwá, em Barão de Antonina (SP), com excelentes resultados.
Na aldeia Tekoá Porã, no Sudoeste Paulista, as mudas são utilizadas para arborização da área comum da aldeia e para o enriquecimento de mata ciliar; lá, os indígenas pretendem criar trilhas de turismo ecológico até as margens do rio Itararé, limite da aldeia. Na aldeia Karugwá, outra do Sudoeste Paulista, as mudas de florestais nativas são utilizadas em projeto de recuperação de nascentes da aldeia que se encontram assoreadas e em áreas de pastagens. Estas nascentes foram cercadas em um raio de cinquenta metros, onde foram plantadas centenas de árvores nativas. As nascentes serão recuperadas com a construção de filtros de pedra (caxambu) que possibilitará a obtenção de água limpa e ininterrupta que recuperará os cursos de água que foram assoreados. O mesmo trabalho de recuperação ambiental ocorrerá nas Terras Indígenas da região de Braúna (SP), para onde as mudas já foram enviadas e o início dos trabalhos de cercamento e plantio devem começar ainda neste primeiro semestre.
Na aldeia Taquari, em Eldorado (SP), foi construído um módulo agroflorestal que mescla linhas de florestais pioneiras nativas, em conjunto com adubação verde, e linhas de frutíferas nativas e comerciais com plantios sazonais, tais como banana, milho, mandioca, batata doce e pimenta dedo de moça. A produção de batata doce do sistema agroflorestal é adquirida pelo projeto Rede Ecosol Mulheres, uma parceria da Funai com a Prefeitura de Itanhaém (SP), que cedeu espaço para a implantação de uma agroindústria para a produção de nhoque de batata doce tradicional indígena. A batata doce tradicional de cor alaranjada e sabor diferenciado, conhecida pelos indígenas como Jety Andai, é comprada dos agricultores da aldeia Rio Branco de Itanhaém e diversas aldeia da região e processada na agroindústria de Itanhaém; a própria Prefeitura compra o produto para doação simultânea por meio do Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (PAA).
A produção agrícola nas aldeias do litoral de São Paulo, principalmente Itanhaém, Mongaguá e Ubatuba, teve um grande aumento graças ao Projeto Microbacias, que foi executado pela CDRS em parceria com a Funai e prefeituras locais por meio de suas Secretarias de Agricultura. O Projeto Microbacias propiciou estruturar a cadeia produtiva, com a aquisição de motocultivadores, microtratores, mudas de palmeiras, banana e frutíferas comerciais e veículos para transporte da produção. Isso possibilitou o acesso dos indígenas ao mercado e o escoamento do excedente da produção das aldeias transformando indígenas que antes faziam plantio de subsistência em produtores agroecológicos.